Programa Computer Science For All combina apoio a professores, verba de grandes empresas e vontade de gestores para capacitar a nova geração
por Vinícius de Oliveira.
Publicado originalmente no portal Porvir.
Para tapar o buraco de 600 mil vagas com altos salários em tecnologia e também preparar a mão de obra para um cenário que aponta a ciência da computação dominando empregos nas ciências em 2018, o presidente dos EUA Barack Obama anunciou uma nova iniciativa chamada Computer Science For All (Ciência da Computação Para Todos).
Se aprovado pelo Congresso, que é dominado pela oposição americana, o investimento que soma US$ 4 bilhões (R$ 15,5 bilhões) será destinado à formação de professores e à aquisição de material didático, dentre outras áreas. “Na nova economia, programação não é opcional – é uma habilidade básica da mesma maneira que os 3 Rs [escrita, leitura e aritmética]”, disse Obama em seu programa semanal de rádio. “Nove em cada 10 pais querem que ela seja ensinada nas escolas de seus filhos”.
Em um mundo em que crianças já são consumidoras de tecnologia, o programa busca adicionar novos elementos ao jogo, como desenvolver pensamento lógico e torná-las mais criativas e ativas nas decisões do mundo atual e do futuro. Para dar conta desta tarefa, um arranjo de vários níveis da administração pública, além de educadores, fundações e mais de 50 empresas, como Apple, Cartoon Network, Code.org, Facebook, Google, Microsoft e Salesforce.org, foi criado. Trata-se de uma receita de mobilização já vista no programa ConnectED (veja no especial Tecnologia na Educação), que busca levar internet rápida para todas as escolas e que já diminuiu pela metade o número de instituições que tinham infraestrutura deficiente.
O desafio
Ao ampliar o acesso a conhecimentos na área de tecnologia, o governo americano diz direcionar seus esforços para o combate da disparidade que cerca as grandes empresas de tecnologia. Tudo começa na escola. Nas menos de 15% das instituições que oferecem algum curso para o ingresso em faculdades de tecnologia, apenas 22% dos que fizeram o exame final eram meninas e 13% eram negros ou latino-americanos. Essa desigualdade também acaba retratada tanto pela mídia quanto por estereótipos arraigados na sociedade. Por exemplo, na TV e no cinema, as mulheres são exceção quando se olha para os personagens retratados.
Educadores
Nos últimos cinco anos, o currículo escolar relacionado à programação ganhou novas disciplinas apoiadas pela Fundação Nacional de Ciências (NSF). Tanto o conteúdo para o ensino médio quanto aquele dos primeiros anos do ensino fundamental foram alterados para se tornarem mais acessíveis às diferentes realidades de diferentes estudantes.
Agora, o governo Obama espera ampliar as práticas convidando professores a se juntarem às comunidades de aprendizagem como a 100kin10 para compartilhar experiências e também criarem clubes de programação e darem início a programas de robótica e espaços maker.
Gestores escolares
Mais de 60 distritos escolares já se comprometeram com a iniciativa, sejam republicanos ou democratas. No caso da cidade de Nova York, foi anunciado um plano intersetorial público-privado de dez anos no valor de US$ 80 milhões (R$ 311 milhões) que prevê uma remuneração especial para seus 5.000 professores. Apesar de ter como objetivo atingir todos os estudantes, segundo artigo do jornal The New York Times, a disciplina de programação não se tornará obrigatória, mas os cerca de 1 milhão de estudantes receberão pelo menos algumas noções de robótica e da linguagem Scratch.
Em Chicago, a história é um pouco diferente e o ensino médio contará com um programa de um ano de duração até 2018. Neste mesmo período, é esperado que uma em cada quatro crianças do ensino fundamental também já tenha contato com linhas de código.
Na costa oeste, em São Francisco, foi aprovado no último mês de junho um projeto para oferecer programação do jardim da infância até o ensino médio, sendo obrigatório até a oitava série.
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